Whitaker Penteado, de nacionalidade brasileira, escreveu um interessante livro intitulado «O Folclore do Vinho» onde escreveu:
«Para mim, a sedução maior e mais autêntica do vinho está no seu folclore. O vinho está omnipresente nas festas populares, nos provérbios, no cancioneiro, nas lendas e superstições.
O vinho não faz parte da vida: é afirmação de vida.
Basta entrar em qualquer casa e descer à adega, e aí estão, silenciosos e hieráticos, os numes tutelares da família.
Basta observar, em qualquer lugar público, em torno à mesa, o ritual das garrafas e dos copos, a expressão de beatitude dos circunstantes.
Não importa se o momento mágico é de recolhimento devoto, ou de explosão de alegria; a liturgia está ali, palpável e transcendental».
História do Vinho
A Vinha e o Vinho em Portugal
Segundo o Instituto da Vinha e do Vinho, que nos transmite esta história, desde os tempos mais remotos, o vinho tem vindo a desempenhar um papel de relevo em quase todas as civilizações. "Fruto da videira e do trabalho do Homem", não é ultrapassado por nenhum outro produto da agricultura, aliando esse fruto saboroso e nutritivo à bebida privilegiada, precioso néctar, dele extraída.
Repleto de simbologia, impregnado de religiosidade e de misticismo, o vinho surge desde muito cedo na nossa literatura, tornando-se fonte de lendas e inspiração de mitos.
As expressões "dádiva de deuses", "Sangue de Cristo", e "essência da própria vida" atribuídas a este produto corroboram bem o papel do vinho na vertente cultural bem como a sua importância na nossa civilização, a que chamamos "ocidental", cujos fundamentos se encontram no direito romano e na religião cristã, que desde sempre enalteceram e dignificaram este saboroso líquido.
Mas... tentemos fazer uma pequena viagem até às mais recônditas origens, na história da vinha e do vinho em Portugal.
2 000 anos a.C.; séc.X a.C. – séc.II a.C.
Reino de Tartessos; Fenícios e Gregos; Celtas e Iberos
Embora envolto em muitas dúvidas e mitos, pensa-se que a vinha terá sido cultivada pela primeira vez em terras da Península Ibérica (vale do Tejo e Sado), cerca de 2 000 anos a.C., pelos Tartessos, dos mais antigos habitantes desta Península, cuja civilização parece ter sido bastante avançada. Estes habitantes estabeleciam negociações comerciais com outros povos, permutando diversos produtos, entre os quais o vinho, que veio a servir, provavelmente, de moeda de troca no comércio de metais.
Os Fenícios, cerca do século X a.C., acabaram por se apoderar do comércio dos Tartessos, incluindo o respeitante aos vinhos. Pensa-se que tenham trazido algumas castas de videiras que introduziram na Lusitânia.
No século VII a.C. os Gregos instalaram-se na Península Ibérica e desenvolveram a viticultura, dando uma particular atenção à arte de fazer vinho. Na necrópole de Alcácer do Sal foi encontrada uma "cratera" grega de sino, vaso onde os Gregos diluíam o vinho com água antes de o consumirem.
Alguns autores referem que Ulisses, ao fundar a cidade de Lisboa (a que deu o nome de Ulisseia ou Olisipo) seguiu o costume usado nas suas viagens, oferecendo vinho para festejarem com ele as boas vindas.
Crê-se que no século VI a.C. os Celtas, a quem a videira já era familiar, teriam trazido para a Península as variedades de videira que cultivavam. É também provável que tenham trazido técnicas de tanoaria.
Os Celtas e os Iberos fundiram-se num só povo - os Celtiberos -, ascendentes dos Lusitanos, povo que se afirma no século IV a.C.
Séc. II a.C. a Século VII d.C.
Romanos e Povos Bárbaros
A expansão guerreira de Roma na Península Ibérica conduziu aos primeiros contactos com os Lusitanos, cerca de 194 a.C.
Seguiram longos anos de lutas de guerrilha, só vencidas pelos Romanos dois séculos depois, com a conquista de toda a Península em 15 a.C., conseguindo subjugar os Lusitanos.
A romanização na Península contribuiu para a modernização da cultura da vinha, com a introdução de novas variedades e com o aperfeiçoamento de certas técnicas de cultivo, designadamente a poda.
Nesta época, a cultura da vinha teve um desenvolvimento considerável, dada a necessidade de se enviar frequentemente vinho para Roma, onde o consumo aumentava e a produção própria não satisfazia a procura.
Seguiram-se as invasões bárbaras e a decadência do Império Romano. A Lusitânia foi disputada aos romanos por Suevos e Visigodos que acabaram por vencê-los em 585 d.C, tendo-se dado, com o decorrer do tempo, a fusão de raças e de culturas, passando-se do paganismo à adopção do Cristianismo.
É nesta época (séculos VI e VII d.C.), que se dá a grande expansão do Cristianismo (apesar de já ser conhecido na Península Ibérica desde o séc. II). O vinho torna-se então indispensável para o acto sagrado da comunhão. Os documentos canónicos da época evidenciam a "obrigatoriedade" da utilização do vinho genuíno da videira na celebração da missa (produto designado por "não corrompido", ao qual tivesse sido apenas adicionada uma pequena porção de água).
Ao assimilar a civilização e religião dos romanos, os "bárbaros" adoptaram igualmente o vinho, considerando-o como a bebida digna de povos "civilizados". No entanto, não introduziram quaisquer inovações no cultivo da videira.
Século VIII a XII
Alta Idade Média - Invasão dos Árabes
No início do Século VIII outras vagas de invasores se seguiram, desta vez vindas do Sul. Com a influência árabe começava um novo período para a vitivinicultura Ibérica.
O Corão proibia o consumo de bebidas fermentadas, onde o vinho se inclui. No entanto, o emir de Córdoba que governava a Lusitânia, mostrou-se tolerante para com os cristãos, não proibindo a cultura da vinha nem a produção de vinho. Havia uma razão: para os Árabes, a agricultura era importantíssima, aplicando-se aos agricultores uma política baseada na benevolência e protecção, desde que estes se entregassem aos trabalhos rurais, para deles tirarem o melhor proveito. Mesmo no Algarve, onde o período do domínio árabe foi mais longo, ultrapassando cindo séculos, produziu-se sempre vinho, embora se seguissem os preceitos islâmicos.
Lisboa manteve, deste modo, o seu comércio tradicional de exportação de vinho.
Nos séculos XI e XII, com o domínio dos Almorávidas e Almoadas, os preceitos do Corão foram levados com maior rigor, dando-se, então, uma regressão na cultura da vinha.
Século XII a XIV
Baixa Idade Média
Séculos XII e XIII, o vinho constituiu o principal produto exportado. Documentos existentes, designadamente doações, legados, livros ou róis de aniversários, livros de tombos de bens, etc., confirmam a importância da vinha e do vinho no território português, mesmo antes do nascimento da nacionalidade. Conhecem-se doações que incluíam vinhas ao Mosteiro de Lorvão, entre 950 e 954.
Entretanto, já se tinha iniciado a Reconquista Cristã. As lutas dão-se por todo o território e as constantes acções de guerra iam destruindo as culturas, incluindo a vinha.
A fundação de Portugal, em 1143 por D. Afonso Henriques, e a conquista da totalidade do território português aos mouros, em 1249, permitiu que se instalassem Ordens religiosas, militares e monásticas, com destaque para os Templários, Hospitalários, Sant'Iago da Espada e Cister, que povoaram e arrotearam extensas regiões, tornando-se activos centros de colonização agrícola, alargando-se, deste modo, as áreas de cultivo da vinha.
O vinho passou, então, a fazer parte da dieta do homem medieval começando a ter algum significado nos rendimentos dos senhores feudais. No entanto, muita da sua importância provinha também do seu papel nas cerimónias religiosas. Daí o interesse dos clérigos, igrejas e mosteiros, então em posição dominante, pela cultura da vinha.
Os vinhos de Portugal começaram a ser conhecidos até no norte da Europa. Consta que o duque de Lencastre, após o seu desembarque na Galiza, quando veio a Portugal em auxílio de D. João I na luta contra Castela, conhecendo já a fama dos nossos vinhos, mostrou desejo de provar o vinho de Ribadavia, tendo-o achado "muito forte e fogoso"...
Foi na segunda metade do século XIV, que a produção de vinho começou a ter um grande desenvolvimento, renovando-se e incrementando-se a sua exportação.
Século XV – XVII
Idade Moderna – Renascimento
Nos séculos. XV e XVI, no período da expansão portuguesa, as naus e galeões que partiram em direcção à Índia, um dos produtos que transportavam era o vinho. No período áureo que se seguiu aos Descobrimentos, os vinhos portugueses constituíam lastro nas naus e caravelas que comercializavam os produtos trazidos do Brasil e do Oriente.
Será talvez oportuno referirem-se aqui os vinhos de "Roda" ou de "Torna Viagem". Se pensarmos quanto tempo demoravam as viagens... Eram, na generalidade, cerca de seis longos meses em que os vinhos se mantinham nas barricas, espalhadas pelos porões das galés, sacudidas pelo balancear das ondas, ou expostos ao sol, ou por vezes até submersas na água dos do fundo dos navio... E o vinho melhorava!
Tal envelhecimento suave era proporcionado pelo calor dos porões ao passarem, pelo menos duas vezes, o Equador e pela permanência do vinho nos tonéis, tornando-os ímpares, preciosos e, como tal, vendidos a preços verdadeiramente fabulosos. O vinho de "roda" ou de "torna viagem" veio assim facultar o conhecimento empírico de um certo tipo de envelhecimento, cujas técnicas científicas se viriam a desenvolver posteriormente.
Em meados do século XVI, Lisboa era o maior centro de consumo e distribuição de vinho do império - a expansão marítima portuguesa levava este produto aos quatro cantos do mundo.
Chegados ao século XVII, o conjunto de publicações de várias obras de cariz geográfico e relatos de viagens, quer de autores portugueses, quer de autores estrangeiros, permite-nos entender o percurso histórico das zonas vitivinícolas portuguesas, o prestígio dos seus vinhos e a importância do consumo e do volume de exportações.
Século XVIII a XX
Idade Contemporânea
Em 1703, Portugal e a Inglaterra assinaram o Tratado de Methwen, onde as trocas comerciais entre os dois países foram regulamentadas. Ficou estabelecido um regime especial para a entrada de vinhos portugueses em Inglaterra. A exportação de vinho conheceu então um novo incremento.
No século XVIII, a vitivinicultura, tal como outros aspectos da vida nacional, sofreu a influência da forte personalidade do Marquês de Pombal.
Assim, uma grande região beneficiou de uma série de medidas proteccionistas - a região do Alto Douro e o afamado Vinho do Porto. Em consequência da fama que este vinho tinha adquirido, verificou-se um aumento da sua procura por parte de outros países da Europa, para além da Inglaterra, importador tradicional. As altas cotações que o Vinho do Porto atingiu fizeram com que os produtores se preocupassem mais com a quantidade do que com a qualidade dos vinhos exportados, o que esteve na origem de uma grave crise.
Para pôr fim a esta crise, o Marquês de Pombal criou, por alvará régio de 10 de Setembro de 1756, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, com o fim de disciplinar a produção e o comércio dos vinhos da região, prevendo ainda a necessidade de se fazer, urgentemente, a demarcação da região, o que veio a concretizar-se. Assim, segundo alguns investigadores, foi esta a primeira região demarcada oficialmente no mundo vitivinícola.
O século XIX foi um período negro para a vitivinicultura. A praga da filoxera, que apareceu inicialmente na região do Douro em 1865, rapidamente se espalhou por todo o país, devastando a maior parte das regiões vinícolas. Colares foi a única excepção, porque a filoxera não se desenvolve nos terrenos de areia, onde as suas vinhas se cultivam, ainda hoje.
Assim, para fazer face a este flagelo, logo em 1866, António Augusto de Aguiar, juntamente com João Inácio Ferreira Lapa e o Visconde de Vila Maior, foram encarregados de avaliar a situação dos centros vinícolas do país e de estudar os processos que neles se adoptavam.
Este conhecimento da situação concreta da vitivinicultura portuguesa, levou António Augusto de Aguiar à nomeação de Comissário Régio na Exposição de Vinhos, realizada em Londres, em 1874. Foi justamente no âmbito da sua participação nesta exposição e da digressão científica que fez pelos países europeus produtores de vinhos, que desencadeou a análise crítica e audaz ao sector vitivinícola nacional, expressa nas famosas Conferências sobre Vinhos, proferidas por António Augusto de Aguiar, em 1875, no Teatro de D. Maria e, posteriormente, no da Trindade.
O início do século XX, foi marcado pela Exposição Universal de Paris emblematicamente inaugurada em 1900. Portugal participou activamente neste evento, dedicando especial atenção à secção de Agricultura, por todos considerado o sector mais importante da nossa representação. Deste evento, ficou-nos a obra fundamental de B. C. Cincinnato da Costa, "Le Portugal Vinicole", editada especificamente para ser apresentada na exposição.
Em 1907/1908, iniciou-se o processo de regulamentação oficial de várias outras denominações de origem portuguesas. Para além da região produtora de Vinho do Porto e dos vinhos de mesa Douro, demarcavam-se as regiões de produção de alguns vinhos, já então famosos, como são o caso dos vinhos da Madeira, Moscatel de Setúbal, Carcavelos, Dão, Colares e Vinho Verde.
Com o Estado Novo (1926/1974), foi iniciada a "Organização Corporativa e de Coordenação Económica", com poderes de orientação e fiscalização do conjunto de actividades e organismos envolvidos. Foi neste contexto que se criou a Federação dos Vinicultores do Centro e Sul de Portugal (1933), organismo corporativo dotado de grandes meios e cuja intervenção se marcava, fundamentalmente, na área da regularização do mercado.
À Federação, seguiu-se a Junta Nacional do Vinho (JNV) (1937), organismo de âmbito mais alargado, que intervinha tendo em conta o equilíbrio entre a oferta e o escoamento, a evolução das produções e o armazenamento dos excedentes, em anos de grande produção, de forma a compensar os anos de escassez.
A JNV veio a ser substituída em 1986 (D.L. nº 304/86 de 22 de Setembro) pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), organismo adaptado às estruturas impostas pela nova política de mercado decorrente da adesão de Portugal à Comunidade Europeia.
Surge, então, uma nova perspectiva na economia portuguesa e, consequentemente, na viticultura. O conceito de Denominação de Origem foi harmonizado com a legislação comunitária, e foi criada a classificação de "Vinho Regional", para os vinhos de mesa com indicação geográfica, reforçando-se a política de qualidade dos vinhos portugueses.
Com objectivos de gestão das Denominações de Origem e dos Vinhos Regionais, de aplicação, vigilância e cumprimento da respectiva regulamentação, foram constituídas Comissões Vitivinícolas Regionais (associações interprofissionais regidas por estatutos próprios), que têm um papel fundamental na preservação da qualidade e do prestígio dos vinhos portugueses.
Actualmente estão reconhecidas e protegidas, na totalidade do território português, 32 Denominações de Origem e 8 Indicações Geográficas.
Algumas curiosidades históricas:
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Moscatel de Setúbal - (1381) Nesta data Portugal já exportava grande quantidade deste vinho para a Inglaterra.
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Vinho do Porto - o Tratado de Methwen (1703) assinado entre Portugal e a Grã-Bretanha, contribuiu para a popularidade deste vinho que beneficiava de taxas aduaneiras preferenciais. Durante o século XVIII, para os ingleses, vinho era praticamente sinónimo de vinho do Porto.
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Vinhos da Bairrada - No Reinado de D. Maria I (1734/1816) os vinhos portugueses adquiriram grande projecção, tendo-se iniciado a exportação de vinhos, com destaque para os desta região, que foram exportados para a América do Norte, França, Inglaterra e, em especial, para o Brasil, onde eram muito apreciados.
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Vinho de Bucelas - Com as Invasões Francesas (1808/1810) este vinho começou a ser conhecido internacionalmente. Wellington apreciava-o de tal maneira que o levou de presente ao então príncipe regente, mais tarde Jorge III de Inglaterra. Depois da Guerra Peninsular, este vinho tornou-se um hábito na corte Inglesa. No tempo de Shakespeare (1564/1613) o vinho de Bucelas era conhecido por "Lisbon Hock" (vinho branco de Lisboa) (1564/1613).
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Vinho de Carcavelos - (1808/1810) foi bem conhecido das tropas de Wellington que o levaram para Inglaterra, tendo sido, durante largos anos, exportado em grandes quantidades.
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Vinho da Madeira - (1808/1810) Considerado um dos vinhos de maior requinte nas cortes europeias, tendo chegado mesmo a ser usado como perfume para os lenços das damas da corte. Na corte inglesa este vinho rivalizava com o vinho do Porto. Shakespeare (1564/1613) referiu-se ao vinho da Madeira como essência preciosa, na sua peça "Henrique IV". O duque de Clarence, irmão de Eduardo IV (séc. XV) deixou o seu nome ligado a este vinho quando, ao ter sido sentenciado à morte na sequência de um atentado contra o seu irmão, escolheu morrer por afogamento num tonel de Malvasia da Madeira. Mas para além da Inglaterra, também a França, a Flandres e os Estados Unidos o importavam. Francisco I (1708/1765), orgulhava-se de o possuir e considerava-o "o mais rico e delicioso de todos os vinhos da Europa". As famílias importantes de Boston, Charleston, Nova Iorque e Filadélfia disputavam umas às outras os melhores vinhos da Madeira.
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Vinho do Pico - Açores - (Séc. XVIII) foi largamente exportado para o Norte da Europa e até mesmo para a Rússia. Depois da revolução (1917), foram encontradas garrafas de vinho "Verdelho do Pico" armazenadas nas caves dos antigos czares.
Regiao Demarcada do Douro
Embora nem todos o sabem fazem parte da Região Demarcada do Douro as propriedades que foram de D. Maria Angélica de Sousa Pinto Barroso, na Freguesia de Frechas, e as da Sociedade Clemente Meneres, nas freguesias de Romeu, Avantos, Frechas e Carvalhais, do Concelho de Mirandela.
A Região Demarcada do Douro foi durante séculos produtora apenas do célebre "Vinho do Porto" sendo o vinho de mesa considerado como um produto de menor qualidade e sem interesse para a economia do Douro.
Felizmente para os amantes do vinho, esta filosofia foi alterada, passando a olhar-se o vinho de consumo aqui produzido como um produto tão nobre como o "Vinho Fino".
É de louvar o contributo dado pelas grandes marcas instaladas no Douro, para a divulgação e promoção do Vinho DOC Douro.
Com a publicação do Dec. Lei nº 1080/82 de 17 de Novembro é criada a região DOC Douro passando esta a usufruir de todos os benefícios daí resultantes.
Dos Vinhos aqui produzidos apenas cerca de 50% são destinados a vinhos de mesa, sendo os restantes destinados a "Vinho do Porto".
Situação Geográfica
Esta região abrange no distrito de Vila Real: os concelhos de Mesão Frio, Peso da Régua e Santa Marta de Penaguião e as freguesias de Alijó, Amieiro, Carlão, Casal de Loivos, Castedo, Cotas, Favaios, pegarinhos, Pinhõ, Sanins do Douro, Santa Eugênia, São Mamede de Riba Tua,Vale de Mendiz, Vilar de Maçada e Vilarinho de Cotas do Concelho de Alijó; as freguesias de Candedo, Murça e Noura, do Concelho de Murça; as freguesias de Celeirós, Covas do Douro, Gouvães do Douro, Gouvinhas, Paradela de Guiães, Provesende, São Cristóvão do Douro, Vilarinho de São Romão, São Martinho de Anta, Souto Maior, Paços e Sabrosa, do Concelho de Sabrosa; as freguesias de Abaças, Ermida, Folhadela, Guiães, Mateus, Nogueira, Vila Real (Nossa Senhora da Conceição), parada de Cunhos (São Pedro) e Vila Real (S. Dinis) do Concelho de Vila Real.
No distrito de Bragança: as freguesias de Vilarelhos do Concelho de Alfândega da Fé; as freguesias de Carrazeda de Ansiães, Castanheiro do Norte, Ribalonga, Linhares, Beira Grande, Seixo de Anciães, Parambos, Pereiros, Pinhal do Norte, Pombal, Lavandeira e Vilarinho da Castanheira, do Concelho de Carrazeda de Ansiães; as freguesias de Ligares, Poiares, Mazouco e Freixo de Espada-à-Cinta; as freguesias de Açoreira, Adeganha, Cabeça Boa, Horta, Lousa, Peredo dos Castelhanos, Urros e Torre de Moncorvo, do Concelho de Torre de Moncorvo; as freguesias de Assares, Lodões, Roios, Sampaio, Santa Comba da Vilariça, Vale Freixoso, Freixiel, Vilarinho das Azenhas e Seixo de Manhoses, as Quintas da Peça e das Trigueiras e as propriedades de Vimieiro, situadas na freguesias de Vilas Boas e Vila Flor do Concelho de Vila Flor; as propriedades que foram de D. Maria Angélica de Sousa Pinto Barroso, na Freguesia de Frechas, e as da Sociedade Clemente Meneres, nas freguesias de Romeu, Avantos, Frechas e Carvalhais, do Concelho de Mirandela.
No distrito de Viseu: as freguesias de Armamar, Aldeias, Fontelo, Santo Adrião, Vacalar e Vila Seca, do Concelho de Armamar; as freguesias de Valdigem, Sandes, Penajóia, Parada do Bispo, Cambres, Samudães, Ferreios de Avões, Figueira, Santa Maria de Almacare e Sé e as Quintas de Fontoura, do Prado e as Várzeas, na freguesia de Várzea de Abrunhais, do Concelho de Lamego; a freguesia de Barrô, do Concelho de Resende; as freguesias de Casais do Douro, Ervedosa do Douro, Castanheiro do Sul, Nagozelo do Douro, Sarzedinho, Soutelo do Douro, Espinhosa, Paredes de Beira, Trefões, Vale de Figueiras, Valongo dos Azeites, Várzea de Trevões, Vilarouco e São João da pesqueira; as freguesias de Adorigo, Valença do Douro, Barcos, Granjinha, Desejosa, Távora, Pereiro, Sendim, Santa Leocádia e Tabuaço, do Concelho de Tabuaço.
No distrito da Guarda; o Concelho de Vila Nova de Foz Côa; a freguesia de Escalhão, do Concelho de Figueira de Castelo Rodrigo; as freguesias de Longroiva, Poço do Canto, Fontelonga e Meda, do Concelho de Meda.
Solos / Vinhedos
Os solos são compostos por xistos do câmbrico e pré-câmbrico ricos em potássio e pobres em matéria orgânica, e uma pequena camada de terra argilosa.
A vinha é tradicionalmente plantada em terraços ou socalcos e mais recentemente graças às novas tecnologias apareceu o chamado plantio ao alto o que facilita todo o trabalho de produção, mas vem alterar profundamente a paisagem característica do "Douro".
A vinha é conduzida em bardos ou cordões aramados ou não.
Castas Brancas : Arinto, Boal, Cerceal, Donzelinho Branco, Esgana Cão, Folgazão, Verdelho, Malvasia Corada, Malvasia Fina, Rabigato, Branco sem Nome, Dona Branca, Fernão Pires, Malvasia Parda, Rabo de Ovelha e Viosinho.
Tintas :Bastardo, Cornifesto, Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Mourisco Tinto, Periquita, Rufete, Tinta Amarela, Tinta da Branca, Tinta Barroca, Tinta Francisca, Tinta Roriz, Tinta Cão, Touriga Francesa, Touriga nacional, Alvarelhão, Souzão, Tinta Carvalha e Touriga Brasileira.
A Vinha e o Vinho no Concelho de Mirandela
Os vinhos do Concelho de Mirandela estão integrados na Denominação de Origem de Trás-os-Montes, pertencendo à Sub-Região de Valpaços, com excepção dos pertencentes às propriedades de Clemente Meneres que integram a Região Demarcada do Douro. Não é um concelho especialmente vocacionado para o vinho, embora imensos agricultores o produzam para consumo corrente ou familiar. Não possui qualquer cooperativa de vinho e as uvas do concelho são encaminhadas sobretudo para a Cooperativa de Valpaços mas também para Murça e Vila Flor.
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, o concelho de Mirandela produziu em 2002 5.913 litros de vinho (produção expressa em mosto), nada comparável com o concelho de Valpaços (59.725) ou Mogadouro (47.086), num total de 257.436 referente ao Alto Trás-os-Montes. O Douro produziu 1.218.444 litros.
Segundo alguns investigadores, a cultura da vinha na região de Trás-os-Montes remonta ao tempo dos romanos.
Os solos, de feição planáltica, são formados predominantemente por xistos pré-câmbricos e arcaicos, com algumas manchas graníticas e, numa pequena área, manchas calcárias, de gneisses e aluvião.
As condições edafo-climáticas da região favorecem a produção de vinhos de elevada qualidade, salientando-se os VQPRD provenientes de Chaves, do Planalto Mirandês e de Valpaços, cuja designação foi reconhecida por Decreto-Lei em Outubro de 1989.
Dada a importância que têm vindo a assumir os vinhos provenientes desta grande região vitivinícola, quer do ponto de vista tecnológico, quer a nível económico, foi reconhecida em 9 de Novembro de 2006 a Denominação de Origem Trás-os-Montes, bem como as suas sub-regiões “Chaves”, Planalto Mirandês” e Valpaços”, alargando-se esta designação a uma maior variedade de vinhos e outros produtos do sector vitivinícola, designadamente a vinhos espumante e vinho licoroso, bem como a aguardentes bagaceira e de vinho ali produzidos.
Legislação base - Decreto-Lei Nº 212/2004, Portaria Nº 1204/2006 de 9 de Novembro
Área Geográfica
Sub-Região Chaves
Abrange os concelhos de Chaves (freguesias de Anelhe, Arcossó, Bustelo, Calvão, Cela, Curalha, Eiras, Ervededo, Faiões, Lama de Arcos, Loivos, Madalena, Oura, Outeiro Seco, Póvoa de Agrações, Redondelo, Samaiões, Sanjurge, Santa Cruz/Trindade, Santa Maria Maior, Santo António de Monforte, Santo Estêvão, São Pedro de Agostém , Seara Velha Slhariz, Soutelinho da Raia, Soutelo, Vale de Anta, Vidago, Vila Verde de Raia, Vilar de Nantes, Vilarelho da Raia, Vilarinho das Paranheiras, Vilas Boas, Vilela do Tâmega e Vilela Seca), Vila Pouca de Aguiar (freguesias de Capeludos e Valoura).
Sub-Região Planalto Mirandês
Abrange os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Vimioso, Freixo de Espada à Cinta (freguesias de Fornos e Lagoaça), Torre de Moncorvo (freguesias de Carviçais, Felgar, Felgueiras, Larinho, Maçores, Mós e Souto da Velha, excluindo as áreas pertencentes à Região do Douro).
Sub-Região Valpaços
Abrange os concelhos de Macedo de Cavaleiros (freguesias de Arcas, Cortiços, Lamalonga, Sesulfe, e Vilarinhode Agrochão), Mirandela (freguesias de Abambres, Aguieiras, Alvites, Avantos, (excluindo as propriedades da Sociedade Clemente Meneres), Bouça, Cabanelas, Carvalhais (excluindo as propriedades da Sociedade Clemente Meneres), Fradizela, Franco, Lamas de Orelhão, Múrias, Mascarenhas, Mirandela, Passos, São Pedro Velho, São Salvador, Suçães, Torre de D Chama, Vale de Gouvinhas, Vale de Salgueiro e Vale de Telhas), Murça (freguesia de Jou), Valpaços (freguesias de Água Revés e Castro, Algeriz, Barreiros, Bouçoães, Canaveses, Carrazedo de Montenegro, Ervões, Fornos do Pinhal, Possacos, Rio Torto, Sanfins, Santa Maria de Emeres, Santa Valha, São Pedro de Veiga de Lila, Sonim, Vales, Valpaços, Vassal, Veiga de Lila, e Vilarandelo), Vinhais (freguesias de Agrochão, Ervedosa, Rebordelo, Vale das Fontes, e Vale de Janeiro).
O Ritual das Vindimas e a Produção do Vinho
Álvaro Cúria, descreveu, em 1 de Outubro de 2002, um dia nas vindimas no Douro (que tem semelhanças com todas as outras), da seguinte forma:
«Tudo começa cedo, com um pequeno-almoço reforçado numa das salas da quinta. Muitas geleias, café, leite e pão para conseguirmos aguentar o que se segue. Por todo o lado as crianças querem chegar primeiro à carrinha, os estrangeiros sorriem pouco cientes do que lhes vai acontecer e a família Carvalho vai-nos preparando para o que vamos fazer. Já sabemos que ficamos soltos pelas encostas, deixam-nos livres para sentir o que é a vindima, falar com os trabalhadores, participar de tudo, sempre com um abafado calor de trinta e tal graus que sem se saber como apareceu lá para o meio-dia.
Mas antes já nós estávamos montados na carrinha, quais trabalhadores das vinhas. Com os grandes cestos à frente lá fomos encosta acima naquele veículo de caixa aberta, cantarolando uns refrões conhecidos, perseguidos de perto por dois dos cães da quinta, dedicados a palmilhar pelo monte o caminho dos seus donos.
Chegados às vinhas, o espectáculo é avassalador. O Douro abre-se a nossos pés, com os seus montes de socalcos salpicados de vinhas aqui e ali. Quer diagonais, quer horizontais, para a frente ou para os lados, as uvas ocupam a paisagem, donde ressalta o bonito edifício da casa mãe da Quinta de Santa Eufémia. Mas não podemos ficar paralisados com esta vista de cortar a respiração: depressa temos um cesto na mão com uma tesoura de poda lá dentro e há que começar a apanhar uvas.
Os primeiros cinquenta cachos de uva que se apanham até nem custa por aí além. Vamos comendo algumas, dando dois dedos de conversa, ensaiando uma cantiga para mais logo... Depois notamos que já percorremos decerto alguns quilómetros para trás e para a frente entre as vinhas. Muitas uvas rebentaram-nos nas mãos, onde os dedos colam. As calças estão todas sujas, tal como os ténis e até o cabelo... Façamos um intervalo então, em que vamos lavar as mãos e observar o ritual da apanha da uva. Antes porém carregamos os cestos até ao tractor, separando as uvas de vinho branco das de vinho tinto.
Passadas duas horas e pouco descemos em fila indiana encosta abaixo, em direcção à quinta, para o almoço. O estômago há muito que se fartou de receber uvas, pedindo agora algo mais consistente. Sentados em bancos de madeira no pátio da quinta, o cheiro que sentimos parece-nos divinal. É o da sopa de arroz, feijão e massa que vem voando. A D.Teresa, da quarta geração da família Carvalho, serve-nos este manjar rústico que apetece repetir. Tudo acompanhado de pão caseiro e vinho tinto. Depois é a vez do Rancho. Grão-de-bico com massa e algumas carnes à mistura são a alimentação dos trabalhadores, os quais agora representamos nesta façanha pelas vinhas do Douro. Estamos a viver intensamente esta aventura que não é mais do que o ritual diário de dezenas de pessoas daquela zona».
As vindimas, realizadas no concelho de Mirandela, em Setembro ou Outubro, são, para lá do seu aspecto económico e comercial, um acto cultural que identifica e une as comunidades locais e um momento de convívio e confraternização. As tarefas estão normalmente divididas entre mulheres e homens, cabendo a estes as tarefas que exigem maior força braçal. Os homens carregam os cestos das vindimas às costas, enquanto as mulheres entoam cantigas populares associadas a estas festividades.
Durante o dia das vindimas, fazem-se, pelo menos, duas refeições: o pequeno-almoço e o almoço.
No fim das vindimas as uvas são transportadas ou para cooperativas ou para lagares tradicionais onde se pisa o vinho com os pés, normalmente tarefa dos homens, embora esse costume se vá perdendo.
Provérbios Ligados ao Vinho
- Ao teu amigo e ao teu vizinho o teu melhor pão e o melhor vinho.
- Quem tem bom vinho tem bons amigos.
- Vinho e amigo, o mais antigo.
- Vinho e medo descobrem o segredo.
- Vinho doce bebe-se como se nada fosse.
- Se queres o velho menino, dá-lhe doce e vinho.
- Quem na sopa deita vinho de velho se faz menino.
- Antes da sopa, molha-se a boca.
- Ao meio da sopa, lava-se a boca.
- Sopa acabada, boca molhada.
- Se queres andar bem disposto, bebe vinho, mas não mosto.
- Por cima de melão, vinho de tostão.
- Por cima de pêras, vinho bebas e tanto bebas que nadem as pêras.
- Ao figo água, à pêra vinho.
- Pão com olhos, queijo sem olhos e vinho que salte aos olhos.
- Nem vinho sem Cristo nascer nem laranja sem Cristo morrer.
- Quem não gosta de vinho não gosta de Deus.
- Quem vai à adega e não bebe é ronda que perde.
- Meia vida é a candeia, e o vinho a outra meia.
- Alho e vinho puro levam a porto seguro.
- Alegrai-vos, tripas, que ai vem o vinho.
- Nem Inverno sem capa nem Verão sem cabaça.
- Nuns lados se põe o ramo e noutros se bebe o vinho.
- Vinho e mouro são um tesouro.
- Vinho e linho só sã O vinho de Março fica no regaço, o de Abril vai ao barril, o de Maio é para o gaio.
- Maio frio e Junho quente: bom pão e vinho valente.
- Chuva por Santo Agostinho, é como se chovesse vinho.
- Chuva pelo S. João, bebe o vinho e come o pão.
- Até S. Pedro (29.6), tem o vinho medo.
- Pelo S. Tiago, pinta o bago.
- O S. Tiaguinho traz sempre o cabacinho.
- Pelo S. Lourenço, vai à vinha e enche o lenço.
- No dia de S. Martinho, fura-se o pipinho, mas quem for honrado já o deve ter furado.
- Depois de S. Martinho, bebe o vinho e deixa a água para o moinho.
- No dia de S. Martinho, assa as castanhas e molha-as com vinho.
- Pelo S. Martinho, todo o mosto é bom vinho.
- Leite e vinho fazem o velho menino.
- Azeite de cima, vinho do meio, mel do fundo.
- Vinho que baste, carne que farte.
- Vinho pela cor, pão pelo sabor.
- Mais pessoas se afogam no copo do que no mar.
- Onde alhos há, vinho haverá.
- Tonel mal lavado: vinho estragado.
- Nunca ao bêbedo faltou vinho nem à fiandeira linho.
- Bom vinho: má cabeça.
- Conselho de vinho faz errar o caminho.
- Foge do mau vizinho e do excesso de vinho.
- Quem do vinho é amigo cedo está perdido.
- Quem do vinho é amigo de si é inimigo.
- Quem muito bebe tarde ou nunca paga o que deve.
- Ninguém se embebeda com vinho da sua adega.
- Quem de vinho fala sede tem.
- Mel novo e vinho velho.
- Nuns lados se põe o ramo e noutros se bebe o vinho. o frios um bocadinho.